Meu corpo estava quente aquela tarde. Sentado na praça mais
bonita da cidade, cercado das pessoas mais simpáticas e indiferente aos
problemas que davam vida à tudo em torno daquele oásis protetor, eu só
precisava escrever. Não que eu tivesse algo para ser escrito, ou que achasse
que valeria a pena ser lido, mas a necessidade de preencher o vazio de um papel
em branco com a existência pura e simples me seduzia. Olhar para a folha em
branco no meu colo me fazia pensar no céu, na infinidade do vazio e em todas as
coisas que o preenchem, todas as coisas que existem e eu nunca poderia
imaginar, ver, e o que me causava mais incomodo: alcançar. Diante dessa
inevitável frustração perante a natureza da existência eu confesso que por um
considerável período de tempo as minhas perspectivas foram abaladas e reduzidas
apenas ao autoflagelamento psicológico e filosófico, felizmente substituído,
gradativamente, por uma inquietação que tinha origem na habitual
bênção/maldição humana, me levando a buscar mais do que me é oferecido, a ver
mais do que os olhos mostram. Ora, se o céu guarda um universo infinito e rico
que está “fora do alcance” dos homens, o que seria o homem senão o detentor de
seu próprio universo, incrustado em si mesmo e completamente entrelaçado com
tudo ao seu redor? Nesse ponto cheguei à descoberta de minha vida! Percebi que
eu, criatura, possuía, por direito de ser, motivo e razão da existência, o
status de criador, e que tal qual o céu que tanto me instigava, em mim existiam
mistérios infinitos e inconcebíveis que precisavam ser trazidos à tona e
entrelaçar-se com outros, afinal de contas o mistério só existe quando existe
alguém disposto a não compreende-lo, certo? Voltando agora para a folha de
papel. Ali eu materializava tudo isso. Um universo infinito, pronto para ser
preenchido e ganhar sentido de todas as formas que seu criador desejar, desde
um desenho ou poema, até o descarte para dar lugar a um que mais lhe agrade.
Preencho minhas folhas de papel como um criador que constrói seu universo, e
através delas rompo as correntes que enxerguei originalmente em minha
existência, e as substituo por asas que me afundam no mar de mim mesmo e me
permitem dizer, nem que seja por um precioso momento, que sou livre da natureza
que me foi imposta em detrimento da minha. Quando preencho uma folha de papel,
eu sou humano, e por ser humano, compartilho e absorvo outros mundos. É isso
que faço agora.
~Batalha
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