Sobre o primeiro longa de animação brasileiro.

Que jogue a primeira pedra aquele que nunca se perdeu dentre os frames de uma animação.

Minha paixão começou cedo, nas manhãs de sábado não tão longínquas onde acordar antes das oito era mais gostoso e passar a manhã na frente da TV era um dos maiores prazeres que eu conhecia na época. Pernalonga, Pica-Pau, Scooby Doo... nada me fazia abrir mão do momento sagrado, de cara amassada e café por tomar que durava até a hora do almoço. 

Alguns dos meus desenhos preferidos na infância
Mas eu cresci, e agora? A animação mudou a estes olhos, mas nunca os abandonou. Passei a conhecer coisas novas, obras fantásticas que nunca passariam no sábado de manhã, e como era de se esperar, a posição de observador já não me satisfazia. Me engajei em aprender o processo de criação que julgava simples. Tolice deste que vos fala. Produzir uma animação é trabalhoso e exige dedicação máxima dos envolvidos em todas as etapas, mas tudo vale a pena (assim como a dor de cabeça e nas mãos) e se mescla com o prazer a cada desenho feito (aqui me refiro ao modo tradicional de se produzir, frame a frame).

Batalha nos traços de Otoniel Oliveira. Desenho feito durante minha primeira oficina de animação.
Mas hoje vim falar sobre uma animação, ou melhor, sobre um animador que marcou a história de produções desse gênero no Brasil.  Ao lado de Álvaro Martins (criador da primeira animação brasileira), Rossi, Fonseca Filho, Stamato, Seel, e tantos outros nomes de destaque nos primeiros anos de produção nacional, Anélio Latini Filho imortalisou-se como o criador da primeira longa metragem em animação do país, contando somente com a ajuda de seu irmão, Mário Latini, lançou em 1953 o filme "Sinfonia Amazônica".
 

Anélio (esquerda) e Mário (direita), os  Irmãos Latini.
A obra apresenta um conjunto de 7 lendas da região amazônica: lenda da noite, lenda da formação do Rio Amazonas, lenda do jabuti e da onça, lenda da caipora, lenda da Iara e lenda do arco-íris. Todas as lendas são interligadas no enredo através do pequeno índio Curumi e do boto que o acompanha. 

Sozinho, Anélio produziu cerca de 500.000 desenhos dentre personagens e cenários, e devido às limitações dos recursos disponíveis teve de criar suas próprias técnicas de sonorização, com sucesso. Sua rotina de trabalho consistia em chegar ao estúdio todos os dias às 08:00h e sair às 04:00h, hábito que perdurou por cinco anos e que, segundo familiares e pessoas próximas, foi a causa de problemas pulmonares e posterior câncer que causou seu falecimento em 1986. 
Anélio com algumas de suas criações

As matrizes do longa apresentam um estado delicado e preocupante de conservação, o que deu origem a um movimento com o intuito de restaurar a obra e resgatar esse grande simbolo para da produção nacional.
O país produz muito atualmente, apesar da divulgação precária e confinamento de obras à festivais, e isso representa uma conquista da arte e criatividade nacional.

~Batalha 

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