Os Filmes de CHRISTOPHER NOLAN - Parte 1



Há um tempo escrevi sobre o diretor indiano M. Night Shyamalan, o qual admiro bastante pelo trabalho realizado na produção de ótimos filmes. Foi um exemplo de diretor que surpreendeu ao mostrar um excelente trabalho logo de cara, com o Sexto Sentido, e que lhe rendeu inclusive uma indicação ao Oscar de melhor diretor, além de melhor roteiro original. Apesar de não ter mais recebido indicações, teve esta registrada em sua história como diretor. Pois bem, o mesmo não acontece com todos os que apresentam trabalhos impecáveis, o que nos leva a questionar quais os critérios que a Academia adota para escolher os indicados. Uma das maiores injustiças da história recente do Oscar, em minha opinião, foi justamente a não indicação de outro diretor, em diversas oportunidades: Christopher Nolan. Para esclarecer essa minha opinião, vamos analisar alguns dos ótimos trabalhos do diretor inglês.

Christopher Nolan
Pois bem, Christopher Johnathan James Nolan, nasceu em Londres, em julho de 1970 e logo cedo apresentou interesse pelas filmagens, ao utilizar a câmera super 8 de seu pai para fazer pequenos filmes caseiros. Tarantella, seu primeiro curta-metragem foi exibido na PBS ‘image union’, em 1989. Posteriormente, em 1996, Nolan teve mais alguns curtas exibidos no festival de cinema de Cambridge, como o Lacerny e Doodlebug. Após isso, o diretor iniciou a gravações de longas.


FOLLOWING
O primeiro longa metragem de Nolan, foi finalizado em 1998, com um orçamento muito baixo (algo em torno de 6 mil dólares), e filmado em preto e branco, em uma estrutura não linear, o que Nolan repetiu em outros trabalhos. O filme não chegou ao Brasil nos cinemas e muito menos em DVD, o que o torna totalmente desconhecido por aqui.

FOLLOWING - 1998
O filme conta a história de um escritor desempregado, chamado Bill (Jeremy Theobald) que, em busca de inspiração para seus livros, passa a perseguir pessoas desconhecidas pelas ruas. Após algumas tentativas frustradas, o jovem escritor se depara com um homem de paletó preto, chamado Coob (Alex Haw), que posteriormente descobre ser um ladrão e golpista, sendo convencido por este a acompanhá-lo em seus assaltos. Logo o escritor se vê em um mundo que o fascina por colocá-lo tão imerso na “história”, uma vez que deixa de apenas ter inspiração nas ações presenciadas e passa a fazer parte delas, entregando-se a este novo mundo.

Perseguindo Coob pelas ruas
O filme recebeu boas críticas, e serviu como porta de entrada para Nolan estrear em Hollywood, com um dos seus trabalhos mais originais, utilizando a mesma narrativa não-linear, só que de uma forma mais impressionante...


AMNÉSIA (Memento)
Baseado em um conto escrito pelo irmão de Christopher, Jonathan Nolan, intitulado Memento Mori, este filme, de 2000, chamou a atenção de público e, principalmente da crítica, pela forma como é apresentada: A narração da história é contada de trás para frente. Imagine que você tenha um filme e o divida em 12 capítulos, e então comece a assisti-lo pelo capítulo 12, ao terminar, você assiste o capítulo 11, após isso o 10 e assim indo nessa ordem decrescente, até o capítulo 1, onde tudo é explicado, não revelando o final (que, aliás, você já o conhece, pois o viu no capítulo 12), mas sim mostrando o que originou tudo, e principalmente, se todas as conseqüências que presenciastes ao longo do filme, possuem uma razão verdadeira.

AMNÉSIA - 2000
Essa forma de narrativa não foi usada por acaso, e sim para dar mais riqueza à história do filme, que mostra o personagem Leonard Shelby (Guy Pearce) que sofre de memória anterograda, que faz com que ele fique impossibilitado de ter memórias novas, todos os acontecimentos recentes que ele vive são apagados depois de um curto período, fazendo com que ele não saiba o que aconteceu anteriormente (algo como “não saber o que aconteceu no capítulo anterior” que o filme propõe). Para complicar a situação, Shelby realiza uma busca incansável ao homem que assassinou sua mulher e causou nele esse trauma que o deixou na condição amnésica.

Uma das anotações que Shelby deixa para si mesmo no verso de uma foto.
Uma das principais características do filme é a forma com que Shelby contorna sua amnésia para guardar fatos importantes de sua investigação, como o uso de anotações constantes, tirar fotos, em Polaroid, de pessoas que ele julga poder confiar ou não, ou chegar no extremo de tatuar no corpo os fatos mais relevantes.

As inúmeras tatuagens carregando fatos realmente importantes para a sua jornada.
A narrativa inversa serve para colocar o espectador na situação de Shelby, sendo que cada capítulo começa no momento em que sua memória apaga o que aconteceu antes e ele não sabe como chegou à dada situação, nem o público, resultando em ótimas cenas, como a dele correndo paralelamente a um sujeito armado, quando sua memória dá um “reset” e ele passa a não saber se está perseguindo ou fugindo do sujeito.

A cada perda de memória, Shelby não sabe quem é a pessoa que está com ele... nem se pode confiar nela.
Existem muitas outras características excelentes no filme, que é um dos meus preferidos de Nolan, mas só assistindo para saber. Amnésia recebeu duas indicações ao Oscar: Melhor roteiro original e Melhor edição (montagem). E aí temos o primeiro trabalho que poderia ter rendido a Nolan ao menos uma indicação de melhor diretor, pelo ótimo trabalho, mas não aconteceu, assim como no próximo filme que iremos apresentar.


O GRANDE TRUQUE (The Prestige)
Pulando alguns filmes, vamos direto pra 2006 quando foi lançado O Grande Truque, filme que possui um elenco de peso, como Christian Bale e Michael Caine, com quem Nolan trabalhou também na trilogia Batman, além de Hugh Jackman e Scarlett Johansson; e que surpreendeu novamente público e crítica por mostrar uma trama considerada tri-dimensional, com personagens ricos em suas características, onde não conseguimos definir quem seria o “bonzinho”, o “vilão”, a “mocinha”, ou algo do tipo. 

O GRANDE TRUQUE - 2006
Não que isso seja errado. Há filmes, como O Ilusionista, que apresentam essa distinção clássica e clichê, e mesmo assim são bons. Mas em O grande truque, isso não acontece, cada personagem demonstra em todas suas ações e desejos, qualidades e defeitos, bons sentimentos e ambições, fascínio e obsessões, que vão aumentando ou diminuindo ao longo da narrativa.
Michael Caine e a maravilhosa Scarlett Johansson em cena.
O filme se passa em Londres, no século XIX, e conta a história dos mágicos Robert Angier (Jackman) e Alfred Borden (Bale), que se conhecem desde a época de mágicos  iniciantes, e possuem uma rivalidade que vai crescendo ao longo do tempo, fazendo com que a antiga amizade diminua à medida que a competitividade cresce. Cada um procura descobrir um número que os torne conhecidos e respeitados, algo revolucionário, e nos dê o tão sonhado prestígio no mundo dos mágicos. Quando Alfred realiza um número inexplicável, Robert fica obcecado de tal forma que faz de tudo para descobrir e superá-lo. E a trama vai se desenrolando de uma forma surpreendente, mostrando temas como obsessão, vingança, segredos e os sacrifícios  que eles são capazes de aceitar para atingir seus objetivos, inclusive atos fatais que põe em risco suas vidas.

Borden e Angier, cada vez menos amigos, e mais rivais.
Assim, percebemos que o mundo da mágica é apenas o plano de fundo, e que o filme é mais sobre personalidade, comportamento e psicologia. Colocando personagens tão ricos e complexos em situações que nos faz refletir sobre conflitos e questões morais, em um enredo muito bem feito, cheio de reviravoltas, que prende o espectador até o final, sem escolher um "lado para torcer", ou então, mudando de opinião sobre quem estaria certo ou errado a cada mudança de atos.

A antiga parceria dá lugar a apresentações separadas, sempre com o objetivo de superar o rival.
Outro ponto de destaque no filme é o de quando Angier conhece o grande cientista Nicola Tesla, interpretado por David Bowie, que apresenta ao mágico os resultados de alguns de seus experimentos científicos que ultrapassam qualquer noção de realidade até mesmo para mágico, fazendo com que ele fique tentado a usa-lo de forma desumana, mesmo sabendo das suas terríveis consequências, colocando-o no questionamento extremo do quanto estaria disposto a ir em nome da apresentação perfeita. A resposta, só assistindo ao filme para saber.

Angier conhecendo algumas das experiencias de Tesla.
O Grande Truque foi indicado a dois oscars: Melhor Fotografia e Melhor Direção de arte. E Nolan passou batido mais uma vez pela academia, sem uma indicação de melhor diretor. Mas o seu nome viria a ser conhecido de fato pelo grande público, em grande destaque, com bilheterias recordes, por seu excelente trabalho da nova trilogia do homem-morcego. O qual falaremos a respeito, na parte 2.


~Marcivaldo Lira


Comentários

  1. Huuum, bem interessantes essas histórias. Parecem aquelas que prendem a gente! Mais filmes para a minha lista de indicações do amigo nerd cinéfilo! :-D

    Vi algumas partes de "O Grande Truque" umas vezes, mas nunca vi o filme inteiro e sempre disse a mim mesma: "da próxima vez que passar na TV, eu assisto". Mas nunca cumpro. :-/

    Aliás, você mesmo me disse que nunca cumpro minha promessas quanto a assistir às suas indicações. Isso vai mudar, meu amigo! Pode deixar! ;-)

    Parabéns pelo post. Gostei muito!
    Beijinhos.

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    1. As histórias são interessantes mesmo, são bem criativas. E aí vem o ponto importante: Muitas vezes, ótimas e criativas ideias são perdidas por serem mal executadas, o que não é o caso desses filmes, pois Nolan sempre mostra uma grande competência na direção de seus filmes.
      E é por isso que eu falo que ele já merecia, ao menos, uma indicação ao oscar, a muito tempo. Podes assistir que os filmes são ótimos, principalmente o Amnésia e O grande Truque. Espero que goste das indicações.
      Aguardo teu comentário na parte 2 quando for finalizada ;)
      Beijos ^^

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  2. Amo mto Amnesia e O Grande Truque. Filmes simplesmente fantásticos! Tava aqui pensando... Às vezes nem eh questão de injustiça a parada da indicação ao oscar... Tem anos q a disputa eh tão acirrada q fica difícil realmente competir. Não sei se foram os casos... Só tô pensando alto msm. ;)

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    1. Oi Talita, fico muito feliz que goste tambem desses filmes... até porque fui eu quem os indicou a vc, lembra? hehe. E sim, entendo o que dizes, às vezes ficamos sem entender o porquê de certos filmes ou diretores não terem vencido ou sido indicados, até que vemos a concorrência naquele ano. Só que com o Nolan é meio frequente isso...com o Amnésia, com o Dark Knight, com o Grande Truque, e ficou mais evidente em 2010 quando A origem (Inception) foi indicado ao Oscar de melhor roteiro e melhor filme... mas Nolan não levou a indicação de diretor. Sendo que, no BAFTA e no Globo de Ouro ele foi indicado a Melhor Diretor naquele ano. É no mínimo, estranho... :p

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