Reviver, remake e Robocop.


Pelo visto, nem o histórico ou as continuações bastam para difundir algumas obras cinematográficas clássicas, uma questão merecedora da atenção de cinéfilos, ao verem filmes, à frente de seu tempo, esquecidos, quase enterrados.
Entre estes fãs do século passado, que contemplaram filmes de ficção científica incríveis, qual não os idealizou com uma roupagem mais realística, além das possibilidades daquele tempo? Para alguns, tal ideia permanece como idealização, ou deveria permanecer se não fosse pelo remake.
Claro que, por conquistar a alcunha de clássico, um filme vai além de efeitos especiais. Por isso, um remake que cumpre a função de atrelar-se às ideias do seu anterior e à atualidade é o Robocop de José Padilha, lançado este ano, pois não fica resumido a uma reprodução na qual os efeitos especiais ou a violência são o foco.

Quem quiser evitar spoilers, pare de ler agora.

O filme de Padilha lida com uma realidade tecnológica diferente, mais presente na vida de um telespectador que conhece a abrangência dela, e aproveita esse conhecimento para levar a questão a um nível filosófico; as máquinas conseguiriam distinguir os crimes escamoteados na nossa realidade? E que linha tênue separa um ato de revolta de um possível crime? Esta última fica bastante evidente na cena em que um garoto morre logo no início do filme.


Por isso, como investigador, Robocop consegue materializar na suspeita o seu lado humano e a solução para os questionamentos acima, pois através dela guia o público a encarar contradições contidas em imposições da lei.  O espectador não só compreende isso como sente ao ter uma expectativa quebrada ao ver o robô entrar e sair da sala de reuniões da policia sem confrontar os policiais corruptos que investigava antes da transformação, sendo estes os responsáveis pela sua morte; uma frustração pretendida pelo diretor.


No conflito humanização contra maquinização, a crítica implicada na tensão de um superpolicial honesto, cujo acesso a informações e equipamentos o habilita a investigar e descobrir as sujeiras do próprio sistema que o idealizou, faz o seu papel de alertar sobre o poder da informação nas mãos de alguém que está tão atrelado ao sistema quanto à sua humanidade, um dilema harmonizante.
Se abarcar temáticas tão interessantes em um filme de ação convencem sobre o valor do novo Robocop, a assertiva é duplamente verdadeira para o antigo. A história do primeiro está atrelada às engrenagens constituintes das grandes corporações, que lidam com o desenvolvimento social de forma a descartar um benefício público quando este atrapalha os interesses egoístas dos empresários.  O mais chocante é perceber como a sociedade se submete às conclusões da corporação, apesar de beneficiada pelo desenvolvimento.


A cena em que os policiais grevistas, no argumento de “cumprirem ordens”, fuzilam o superpolicial – isso enquanto deixam a cidade a mercê de todo tipo de atrocidade criminosa -, por simples imposição dos maiorais da OCP, evidencia essa contradição tão mordaz quanto real do sistema capitalista, em que trabalhadores sabotam o trabalho para não serem substituídos. Mas, no melhor estilo otimista, é por corroborar na concepção desta belíssima cena que fico um tanto quanto conformado (Salve o sarcasmo de Verhoeven).

- Herbert Rodolfo.

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