Teorias em Filmes - O ILUMINADO



Quando acompanhamos alguma estória, somos levados a seguir o que o autor ou roteirista pensaram ao escrevê-la, compartilhando a linha de raciocínio dos mesmos, e convergindo a um desfecho único.... mas nem sempre é assim. Algumas vezes observamos algum detalhe ou lógica, deixados propositalmente ou não, que cria uma nova linha de raciocínio, um outro pensamento.

Quem nunca acompanhou um filme e imaginou algo do tipo: "Mas e se isso for um sonho do personagem?" ou "Foi estranho o que ele disse, deve ter outro significado", ou até "Acho que tudo isso passa de uma metáfora pra algo maior", e pronto! Nasce uma "Teoria" nova sobre o filme.

As teorias, que podem acrescentar algo ao filme ou mudar completamente seu significado, variam bastante em diversos níveis desde as que fazem muito sentido e que realmente o autor quis que fosse discutida, até as mais absurdas, mas ainda assim divertidas de se imaginar.


Vamos aqui colocar algumas dessas teorias em filmes, e quem sabe futuramente teorias de quadrinhos e games também (existem em todos os tipos de mídia). E começaremos com um filme já várias vezes citados em outros posts do site: O ILUMINADO, de Stanley Kubrick. 


Deixem a mente aberta!

O Iluminado é um filme de 1980, dirigido por Kubrick, baseado no livro de mesmo nome, escrito por Stephen King. Apesar de King não ter gostado da versão cinematográfica de seu livro, o filme foi aclamado por público e crítica e configura entre os melhores filmes de suspense de todos os tempos. 


E como um filme de sucesso assistido diversas vezes, algumas pessoas criaram e compartilharam suas interpretações a respeito da estória através de algumas teorias, vamos a elas:

- Genocídio dos povos indígenas
O filme teria uma metáfora ao genocídio dos povos indígenas, segundo o jornalista Bill Blakemore em um artigo do famoso jornal estadunidense The Washington Post, em 1987. De acordo com o artigo, existem várias referências sobre a cultura indígena pelo hotel, sejam em quadros ou em carpetes, porém nada disso é usado diretamente na trama ou sequer temos a presença de algum nativo americano entre os personagens do longa.


Imagens de nativos americanos na decoração
Além disso, na parte inicial do filme é contado, meio que apenas por curiosidade, que o terreno onde foi construído o hotel foi antes um cemitério indígena, e nada mais é comentado sobre isso ou feita associação com os misteriosos acontecimentos.


Atrás de Jack, latas onde está escrito "CALUMET", que significa "Cachimbo da paz"
Para Blakemore, essas curiosidades deixadas pro Kubrick não foram colocadas para explicar coisas do filme, mas para simbolizar de forma oculta, através de metáforas, a repressão que os povos indígenas sofreram durante a colonização dos Estados Unidos.

A clássica cena do elevador seria uma das principais referências se formos pensar mais nessa teoria. Pois é de uma parte do hotel que foi construído no lugar onde milhares de índios foram mortos e enterrados, como dito anteriormente, que surge uma enxurrada de sangue. Só pode ter esta ligação. 



E pra completar a teoria, o ponto que Blakemore considera como principal para sua teoria: No final do filme, após a ultima perseguição, é mostrada uma foto de uma baile realizado no dia 4 de julho (Independência dos EUA) de 1921, onde o personagem de Jack, misteriosamente aparece na foto comemorando junto com os demais da época. 



Só que, o que os estadunidenses ignoram é que o 4 de julho não foi nenhuma festa, justamente porque não teria representando independência nenhuma aos nativos americanos. Logo, o personagem de Jack Nicholson, representaria a figura dos americanos que massacraram os povos indígenas em anos anteriores, sem remorsos e comemorando a data com festas nos anos seguintes.


- Metáfora sobre o holocausto.
Agora a teoria vem do historiador Geoffrey Cocks, e encontra muitas similaridades com a teoria de Blakemore, só que dessa vez o povo massacrado representado é o povo judeu. No livro "The Wolf at the Door: Stanley Kubrick, History and the Holocaust", Cocks defende que o filme foi usado para criar uma metáfora ao massacre nazista contra os judeus na Segunda guerra mundial.


Entre os fatos apontados pelo historiador, então as composições musicais do longa, como o "The awakening os Jacob" de Krzysztof Penderecki, possivelmente inspirado nos horrores do Holocausto. Além disso existem muitas referências ao ano de 1942, ano em que teve início pelos nazistas a Operação Reinhard que matou mais de 2 milhões de judeus. O número 42 aparece em vários momentos, como na manga de uma das camisas de Danny, em um comercial na TV sobre o "verão de 42" e até analisando o número do quarto misterioso do filme: o quarto 237 (2 x 3 x 7 = 42).

Outro ponto curioso é a forma quase mecânica com que Jack digita seus textos. Tudo bem que ele utiliza uma maquina de escrever, mas mesmo assim a forma como ele manipula a máquina é interessante por se apresentar fria e sistemática, uma analogia, segundo Cocks, do regime de Hitler às minorias durante a guerra. 




Aliás, até a máquina de escrever de Jack daria uma pista sobre a teoria, pois é da marca alemã Adle, que quer dizer "águia", curiosamente um dos principais símbolos nazistas.


- "Confissão" de Kubrick sobre a farsa do homem na lua.
Essa teoria teve início em outra, a de que o pouso do homem na lua teria sido uma farsa produzida pelos EUA por causa da corrida espacial na época da Guerra fria. Nela, o pouso e todas as cenas do homem na lua teriam sido feitas em estúdio, e pra isso precisaram de um diretor de peso para que as cenas ficassem bem "autênticas" e o escolhido teria sido o próprio Stanley Kubrick.


Lógico que quando perguntado sobre a suposta fraude o diretor nega, mas uma teoria diz que ele se arrependeu do feito e teria colocado elementos no filme que dessem pistas através de referências ao acontecido.


O próprio fato do personagem Jack ir ao hotel para ter uma chance de conseguir escrever seu livro seria uma referência disso, onde, por exemplo, em um diálogo com Wendy, Jack afirma que por causa do trabalho teve que fazer algo que não queria.

Porém a cena que sustenta melhor esta teoria é a qual Danny está brincando no chão de um dos corredores e se levanta mostrando estar usando um suéter onde está desenhado... um foguete e as palavras "Apollo 11" e "USA". 


Apollo 11 foi a nave que (supostamente) levou o homem à lua. Além disso, ele caminha em direção ao sinistro quarto 237, onde coisas estranhas acontecem. Só que, no livro, o quarto possui o número 217, então porque Kubrick mudou? Nunca foi revelado ao certo, porém, coincidentemente (???) a distância da Terra à Lua é de aproximadamente 237 mil milhas.



O que acharam das teorias? Lógico que existem outras e que é preciso um pouco de força de vontade para acreditar em algumas, mas quando os argumentos fazem um pouco de sentido, começa a ficar interessante ^^

Se você conhece alguma outra teoria sobre este ou outro filme, coloque nos comentários, e até a próxima!





~Marcivaldo Lira


Comentários

  1. Não assisti a esse filme (pra variar), mas essas teorias aqui explicadas parecem fazer sentido, para quem tem conhecimento de mundo e conhecimento nerd, claro, rs. A mais interessante foi a da confissão de Kubrick sobre a farsa! A pessoa tem que ser muito inteligente para pensar em cada detalhe, de modo a deixar a informação evidente no filme. E, de novo, muito nerd para relacionar o número do quarto à distância da Terra até a Lua, rs! Sensacional!
    Muito bom o seu texto, nerd. (Não disse que eu ia gostar? :-p)
    Beijos, meu amigo!

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  2. Bom, eu tenho até vergonha de opinar, já que só assisti a esse filme uma vez. Peço perdão aos especialistas se eu cometer algum erro grave. Pois bem: Stephen King também foi criador de Fenda no Tempo (Langoliers, em inglês). ATENÇÃO, SPOILERS. Nesse filme, King demonstra particular interesse sobre a dimensão TEMPO, e inova em relação ao tema ao conduzir um avião ao passado, mas de uma forma muito peculiar: o passado é demonstrado como uma dimensão abandonada. O avião, ao pousar no aeroporto, deixa os passageiros em um ambiente absolutamente vazio, com alimentos vencidos há décadas, e com a própria realidade sendo engolida pelo nada. Quando eu assisti O Iluminado, percebi que realmente este assunto é de interesse de Stephen - porque é interessante mesmo. Seguindo a premissa de que ele se sente seduzido pela 4ª dimensão (o tempo), eu poderia teorizar que o hotel onde eles ficaram se encontra em uma fenda temporal, ou logo após uma fenda temporal, razão pela qual, adentrando-se o referido portal, é possível embarcar no passado do hotel, que já foi abandonado pelo presente. Afinal, assim como em Langoliers, o hotel está vazio, absolutamente vazio. Acredito que, se essa teoria tiver fundamento, a fenda se encontre no próprio hotel, talvez no quarto 237, de forma que o menino poderia ouvir sons sobre eventos que ainda ocorreriam. Claro que essa teoria não explica tudo, como, por exemplo, a mediunidade do garoto, mas teorias são sempre muito vagas mesmo. Para quem tiver interesse em fazer essa comparação, sugiro o filme Fenda no Tempo, que na verdade reúne 2 episódios de uma minissérie, no total de 3 horas. Particularmente eu achei o filme bem paradão, mas tenho certeza de que se houvesse um bom remake, sem as papagaiadas, rsrs, seria um filme a se assistir de fraldas, tamanho o medo que poderia causar. Abraços.

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